Colaboração do Ir. Klebber S Nascimento da ARLS Cavaleiros de São joão nº115
É possível ser maçom sem sê-lo? A pergunta é comum. Para o maçom é motivo de séria reflexão em si mesmo. Como responderia o homem treinado nas coisas da Arte Real? Poderia formular o seguinte raciocínio? - Já viu em algum lugar uma estátua representando uma pessoa vigorosa portando um malho e um cinzel a esculpir-se de dentro de uma pedra? Esta é a representação simbólica da auto-educação da Maçonaria. Não é fácil explicar o funcionamento do processo. Também não constitui segredo. Em resumo a educação maçônica pode apenas ser vivida; é resultado de salutar convivência. Para dar uma idéia superficial do que ocorre na Maçonaria é interessante imaginar o homem em sua origem e de como ele provavelmente construiu sua convivência social.
Na era do homem da caverna, quando o sol se colocava no horizonte, acendiam-se fogueiras para aquecer, assar alimentos e iluminar o ambiente. Ao redor destas fogueiras reunia-se a tribo. Trocavam idéias do cotidiano, da caça, da colheita, dos perigos, e passavam conhecimentos novos de uns para os outros. Nestas reuniões, pelo debate, por conversas, em resultado de atos judicativos, e outras comunicações verbais, cada um desejava sobressair-se ao outro com vistas a estabelecer sua vontade, e principalmente, de obter a aprovação dos demais membros do clã, de identificar-se. Esta necessidade de aprovação do grupo fazia com que o indivíduo se adaptasse ao grupo e aceitasse códigos de ação e conduta que o identificassem. Trocavam segredos, confidências de novas técnicas de caça e truques para os mais diversos fins. Quem traísse tais segredos e os divulgasse a outros de fora do grupo, no mínimo seria expulso do clã, quando não o matavam. Isto foi usado por tanto tempo que acabou gravado indelevelmente nos genes do homem, e assim, passa de geração para geração.
O indivíduo, ao forçar uma modificação em si mesmo, às vezes até contra suas próprias inclinações, praticava o que se faz numa loja maçônica; se auto-educava; é o que significa a alegoria do escultor de si mesmo. O que ocorre dentro da loja é esta força do grupo sobre o indivíduo. Há quem o designe uma força mística. Mágico mesmo é quando se observam pessoas a se modificarem gradativamente para o bem, e isto sem que elas o percebam. O grupo reunido é uma força poderosa para modificar pessoas. - Somos seres sociais por excelência! Sociais porque o grupo exerce uma força incrível sobre cada um de seus membros. Isto é verificável nos grupos de jovens: usar "piercings", cortar cabelo de forma bizarra, tatuagem, e outros sinais de identificação externa, são apenas algumas das modificações forçadas pelos seus iguais. Transfira-se isto para características internas de valores e princípios, espiritualidade, emoções e tem-se o que ocorre dentro de uma loja maçônica. É por isso que não tem como aprender Maçonaria a partir de livros; estes possuem apenas conhecimento, informação; e isto não é educação. Para tal é necessária a convivência.
A escola que só transmite conhecimento sem o aporte de princípios, valores e virtudes, não educa, e às vezes sequer transmite conhecimentos. Transmitir conhecimento não é educação. Informação serve quase que exclusivamente para prover o sustento. E como existe apenas a auto-educação, cada um só muda quando decide e age para estabelecer uma mudança. E quando esta alteração no seu eu (self) tem o apoio do ego (livre arbítrio) tem-se a auto-educação pura e proativa. É sempre orientada para o bem porque a auto-educação exige sempre sacrifício, sair da zona de conforto e partir para a ação contra a tendência natural de aderir a vícios, exige força de vontade hercúlea. Sozinho é difícil, mas não impossível. Em grupo a tarefa é facilitada exatamente pela pressão advinda da reunião de diversas pessoas, da energia do pensamento emitido pela coletividade; é genético. O estímulo vem sempre dos irmãos maçons; membros do mesmo grupo social influenciam seus iguais; é um provocando o outro para o bem. E como se tratam quais irmãos, demonstram profundo amor entre si, o perfeito vínculo de união, é certo que onde se reúnem, manifesta-se aquilo que conhecem pelo conceito de Grande Arquiteto do Universo; espírito que permite reunir numa mesma sala pessoas das mais variadas linhas de pensamentos e religiões para discutirem assuntos da sociedade sem que se matem. É uma grande idéia; a maior herança que a Maçonaria recebeu do Iluminismo Francês.
É possível ser maçom mesmo sem portar avental, o símbolo do trabalho em si mesmo, da auto-educação. O maçom sabe que colocar um avental exige um tácito juramento, formal e sagrado, com trágicas e sérias implicações para consigo mesmo se falhar. O simples fato de ser iniciado na Maçonaria, de portar avental não gera um homem perfeito. Cada loja é a união de homens imperfeitos, livres e de boa vontade, com uma vontade imensa de buscar a perfeição, de se ver aprovado pelos iguais. A virtuosidade aflora quando se entende o benefício da associação e de como empunhar as ferramentas certas na auto-educação. O dia-a-dia do maçom é tomado pelo salutar trabalho em si mesmo; trabalha a pedra. Enquanto uma mão empunha o malho e golpeia com força, a outra mão, conduzida pela razão, empunha firme e delicadamente o cabo do cinzel. A ponta afiada do cinzel elimina gradativamente nódoas e excessos da pedra imperfeita, revelando do interior da rocha disforme o homem aperfeiçoado, exemplar obra de arte do Grande Arquiteto do Universo. Esta é a representação do pedreiro esculpindo-se da rocha, é a representação da sua auto-educação pelo uso da razão equilibrada pela emoção e espiritualidade.
Então é possível tornar-se maçom sem sê-lo? Se faltarem os camaradas de caminhada é difícil, mas possível. Existem muitos homens que nunca viram o piso de um templo maçônico, são maçons sem avental cujo comportamento probo e valioso para a sociedade os faz agirem quais obreiros da pedra, faz deles membros da ordem maçônica sem formalizar sua aderência pela iniciação. Quando identificados, a Maçonaria os convida a fazerem parte da Instituição para reforçarem as colunas de seus templos, de somar força com outros homens de igual disposição mental e espírito servidor da humanidade. É o motivo da entrada na Ordem Maçônica ocorrer sempre em resultado de um convite e não de vontade explicita do pretendente. É este acúmulo de líderes sociais num só lugar a razão de com freqüência ouvir-se que a meta de todo maçom deveria ser o de acabar com a Maçonaria; fechar seus templos. Utopia? Mas, e se todos os homens se tornarem perfeitos, qual será então a utilidade da Ordem Maçônica?
Charles Evaldo Boller
Charles Evaldo Boller é engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina, com 60 anos de idade. Obreiro da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Apóstolo da Caridade, nº 21, do oriente de Curitiba, Paraná, jurisdicionada à Muito Respeitável Grande Loja do Paraná.
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