A MAÇONARIA COM ÉTICA

A ÉTICA NA MAÇONARIA 
 Loja Astro da Arábia – O exemplo.

        

         Ética. Uma questão contemporânea? Não, ética é uma questão da humanidade através dos tempos. É conduta, compatível com os padrões sociais de um determinado momento. É sempre invocada num determinado momento de efervescência política, social, nos grupamentos, nas instituições públicas e privadas. Existem corporações que tabulam códigos de ética, e assim a cada período nos deparamos com conceitos e comportamentos que ditam as regras éticas.

       Nada técnico demais, ou profundo o suficiente para elocubrarmos filosoficamente nas profundezas do conhecimento especializado. Tratemos da ética em seu aspecto mais simples: o comportamento. Afinal ética e comportamento se não a mesma coisa, são conceitos bem aparelhados.

       A partir dessa limitação do conceito emparedado pelo comportamento pergunto-me: existe ética maçônica? É possível praticar a maçonaria com ética? E o que é essa ética maçônica?

       A maçonaria se consagrou através dos tempos sob a inspiração dos temas  da liberdade, da igualdade e da fraternidade, o que nos autoriza crer que todos os conceitos, a imensa gama de preceitos filosóficas e as regras de comportamento do homem maçom devam derivar e navegar por essa tríade da liberdade, igualdade e fraternidade. Tudo deveria defluir daí.

Mas será isso verdadeiro? Os maçons estão preparados para serem éticos e cumprirem com os desígnios filosóficos de que se impregnam nossos rituais? O que é verdadeiramente a ética maçônica? Vamos desvendar o enigma através de fatos concretos pinçados em recentes acontecimentos na GLESP.

         Publicou-se recentemente no Boletim Informativo que a ARLS Benemérita e Beneficente Astro da Arábia foi coberta de direitos. Intrigante a notícia, porque a Loja Astro da Arábia, além dos títulos que per si a recomendam, constitui-se numa Loja que realiza um trabalho que dignifica a todos nós maçons. Através de uma entidade beneficente administra em sede própria um centro de ensino do primário ao colegial, albergando setecentos alunos, a maioria bolsistas, dedicando a esses currículo de excelência, além do que, administra várias creches onde são acolhidas mais de quatrocentas crianças.

         É um trabalho espetacular que os obreiros daquela oficina realizam sem nunca terem realizado uma única campanha para angariar receitas ou donativos. Orgulham-se, todos eles, em consolidar esta obra em nome da maçonaria e sob a égide inspiradora da GLESP.

Mas por que, então, sendo uma Loja diferenciada, com um eloqüente trabalho junto da sociedade, que efetivamente esgota o superlativo de tornar a humanidade feliz, suspenderam-lhe os direitos maçônicos? O que teria feito de tão grave? Vamos descobrir ao fim desta matéria, não sem antes relatar o “descaminho” dessa cobertura.

          Um ex obreiro da Loja Astro da Arábia, lá pelos idos de 2000, recebeu quite placet ex officio. Recentemente este ex obreiro procurou uma Loja do interior paulista jurisdicionada ao Grande Oriente de São Paulo e lá solicitou filiação. Antes disso requereu à Loja Astro da Arábia que lhe entregasse o quite, o que lhe foi negado, pois tratando- se de placet ex officio este somente poderia ser entregue ao Venerável da Loja em que pretendia filiar-se. O venerável da Loja em questão entrou em contato com  a Loja Astro da Arábia e solicitou que o quite placet fosse entregue ao obreiro, ou então, que lhe fosse remetido por correio. Por óbvio que a Loja recusou. Primeiro, porque o regulamento geral não permite que o quite placet ex officio seja entregue em mãos do obreiro eliminado. Segundo, porque o tratado de amizade firmado entre a GLESP e O Grande Oriente estabelece que ambas as potências terão conhecimento de seus processos internos envolvendo iniciação, regularização, eliminação, filiação e etc, impondo que na hipótese o assunto fosse tratado entre secretarias.

            É evidente que havia também uma resistência para a entrega do quite em memória dos fatos que deram causa eliminação do obreiro, graves, sem dúvida alguma. Terceiro, porque a Lei Penal do Código vigente na GLESP proíbe as Lojas jurisdicionadas de trocarem correspondência com Lojas de outras potências. Quarta razão havia débitos pendentes de pagamento pelo obreiro eliminado.

           Essa resistência para a entrega do quite foi levada ao Grão Mestre, sendo que tiveram início episódios que particularmente reputo intrigante. Os membros da Loja Astro da Arábia foram convocados para uma reunião onde estavam presentes o Presidente do Superior Tribunal Maçônico, o Grande Orador, o Assessor de Segurança da Porta do Grão Mestre, o Grande Secretário de Relações Interiores e outros mais, todos decididos a forçar a Loja Astro da Arábia a entregar o quite ao obreiro eliminado. Ponderou-se, argumentou-se, mas nada foi suficiente para fazer entender àquelas autoridades maçônicas que a Loja procedia corretamente.

          Sucedeu-se, então, uma série de atos e procedimentos estarrecedores.

O Grande Orador elaborou parecer atacando o procedimento adotado pela Loja. Num extenso labor dedicou-se a defender a cobertura preventiva de direitos da Loja, aí invocando analogia ao artigo 16 da Constituição Maçônica, que defere ao Grão Mestre a faculdade de, mediante sindicância, suspender preventivamente os direitos de Loja ou obreiro, intuindo neste infeliz pensamento que os Tribunais também gozavam desta faculdade.

          O parecer foi remetido ao Presidente do Tribunal Maçônico de Recursos, que o remeteu ao Grande Orador Adjunto, que com ele concordou, sendo que o Presidente do Tribunal de Recursos decretou a suspensão de direitos da Loja Astro da Arábia. A decisão foi comunicada à Loja através de intimação onde o Presidente do Tribunal determinou que a Loja oferecesse “explicações”.

           Esta decisão foi atacada através de mandado de segurança ao Superior Tribunal Maçônico onde se apontou que o Presidente do Tribunal de Recursos não tinha competência para suspender a Loja, posto que tal faculdade somente é viável quando exista processo regularmente instaurado, o que não acontecia, posto que, não havia denúncia, não fora facultado à Loja a apresentação de defesa, somente explicações, nem os meios como poderia se desenvolver o sagrado direito de defesa, e mais, que sindicâncias são procedimentos administrativos próprios da competência do Grão Mestre, pois os tribunais têm competência para julgar processos. Enfim, vários pontos foram abordados apontando o desacerto daquela decisão.

          Mas o Presidente do Superior Tribunal Maçônico sequer  se dignou receber os membros da Loja para parecer sobre o pedido de liminar que fora manipulado contra aquela insensata e tirana decisão, e isso sob o pretexto das férias corrente na GLESP.

         Em primeira sessão do Superior Tribunal afirmou o presidente que não poderia contrariar a vontade do Grão Mestre e que a liminar seria indeferida.

Mas o que esse episódio tem a ver com a ética maçônica que fora objeto preambular desta jornada escrita. É o exemplo prático demonstrado por fatos: A MAÇONARIA NÃO TEM ÉTICA ALGUMA. E isso afirmo com convicção não apenas pelas administrações que se sucedem, muito mais pelo silêncio contemplativo de seus membros que a tudo assistem e assim o permitem

Nossas práticas ritualísticas são falaciosas, nossos fundamentos filosóficos são instrumentos de demagogia da mais rala estirpe.

        Consolido esta constatação pelo exemplo de conduta acima descrito. Homens aos quais se reputa ilibação de caráter, bem formados e com suas vidas resolvidas subjugam-se pelo exercício de cargo relevante dentro da ordem para terem suas espinhas dorsais curvas ante a iniqüidade de um desejo torpe de vingança, e assim consagram a iniqüidade como regra de conduta dentro da GLESP.

        Incrível que alguém coloque sua intelectualidade a serviço do mal, do errado e se disponha a distorcer a regra jurídica reinante na instituição tão somente para acatar um desejo, fazer um gosto daquele que ele considera superior.

        Nada é mais desprezível do que um julgador tergiversar com a dignidade humana e ceder aos caprichos de determinada pessoa. A pior pecha que se pode atribuir a quem julga é a parcialidade.

O que vimos nesse procedimento acima descrito é a mais pura afronta a todos os princípios seculares sufragados pela maçonaria como forma de agir, de pensar e de explanar seus atos.

        Vimos toda uma instituição ser afrontada por interesses mesquinhos e homens de gabarito técnico profissional curvando-se a uma sinuosa e inconsistente interpretação das leis maçônicas para dar fundamento a uma cobertura que em nada contribui para o enriquecimento cultural e moral dos maçons em geral. Vimos um Tribunal maçônico, em ambas as instâncias, na pessoa de seus respectivos presidentes, praticando atos de tirania e de desrespeito ao sentimento de todos os membros de uma Loja. Tirania do  Tribunal Maçônico de Recursos que impôs castigo sem processo. Tirania e desprezo ao sentimento fraternal do Presidente do Superior Tribunal Maçônico que sequer teve a dignidade de exercera fraternidade recusando-se a receber os membros da Loja suspensa para apreciar pedido urgente de revogação daquele ato tirân ico de cobertura de direitos da Loja. Que ética é essa dentro da maçonaria. A da tirania, da desordem jurídica, do autoritarismo desbragado, do desrespeito ao sentimento dos demais irmãos? O código ético reinante é o da pompa, da autoridade sem limites, do poder sem controle, da ignorância, do desapego aos elementares princípios encartados no preâmbulo da Constituição Maçônica da GLESP.

            A conduta de todos os que se envolveram nesse episódio da cobertura de direitos da Loja Astro da Arábia não dignifica a ordem. Aliás, contempla admitir o que alguns juízes profanos proclamam, que os maçons são arrogantes e hipócritas, porque professam lealdade a princípios e obediência às leis, mas eles mesmos não praticam o que pregam.

E não é mentira. Quando vemos um irmão injustamente acusado e nos calamos somos hipócritas. Quando acusamos por interesses pessoais, somos hipócritas. Quando aceitamos passivamente que tudo isso ocorra, somos hipócritas. Quando vemos a iniqüidade reinar dentro da GLESP e nada fazemos, somos hipócritas.

            Eu não quero ser assim empechado.

Quem tiver discernimento por certo já entendeu que a ética maçônica preconizada não prevaleceu. Mas devo a resposta: por que efetivamente a Augusta e Respeitável Loja Simbólica Benemérita e Benfeitora Astro da Arábia recebeu punição tão drástica?

            Logo após a eleição do atual Grão Mestre fui convidado pela Loja para uma cerimônia e um subsequente jantar de confraternização que seria oferecido ao nosso líder maior. Quem conhece a Loja haverá de concordar que a maneira fraterna como aqueles obreiros recebem os visitantes é incomum até na maçonaria. O prazer dos irmãos da Astro da Arábia evidencia-se pelos lautos banquetes de comida árabe que oferecem a seus visitantes.

            Neste dia lá compareceu o Grão Mestre e no jantar pude presenciar um diálogo dele com o venerável. Perguntou-lhe o Grão Mestre quantos dos irmãos do quadro haviam votado nele, ao que o Venerável respondeu que apenas um, e ainda assim, estavam à procura dele, mas que isso não representava oposição cerrada à sua administração, tão somente um posicionamento político centrado na questão da lealdade com quem concorria e era muito querido pela Loja.

           Creio que essa cobertura decorra daí, desse diálogo sincero e franco, como tem que ser a relação entre os maçons. Uma vingança pessoal do Grão Mestre que defere a todos que o contrariam o tratamento de babacas e f.d.p. Quem já não viu e ouviu?

          Tudo ocorre por culpa da omissão pecaminosa dos maçons, que se acovardaram ante a possibilidade de serem livres em suas expressões e manifestações.

            Por fim quero esclarecer que tenho apreço pelo Grão Mestre, pela figura dele, mas jamais imaginei que ele pudesse dar continuidade a essa política suja que grampeou na GLESP.

Reformas nos estatutos são urgentes.Tratemos disso. Enquanto isso a questão ética.....

   

Eduardo José Capua de Alvarenga ( in memoriam)

ARLS Academia dos Esquecidos Millennium 536

Matéria pubicada em fevereiro de 2011