domingo, 25 de setembro de 2011

“A Maçonaria pode contribuir para uma democracia mais saudável”

Caros Irmãos
Trago partes da entrevista do nosso irmão António Reis, Past Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano, que acaba de deixar o cargo há pouco, na semana que passou. Podemos apreciar seu otimismo com a  maçonaria em Portugal, apesar de alguns aspectos que abordamos anteriormente neste blog. O crescimento e a qualidade dessa potência deve-se muito aos esforços feitos pelo irmão António Reis durante sua gestão. Que bom seria se nossas potências maçônicas em São Paulo, especialmente a Grande Loja, fossem mais prestigiadas pela imprensa e estivessem mais em evidência na sociedade, mas não, certamente,  em desfiles de paramentos pelas avenidas, nem tão somente com iniciativas filantrópicas pontuais, e sim  com ações de intervenção nas políticas sociais que fizessem a diferença, com idéias modernas, coerentes, práticas e factíveis. Águias voam alto, levam o espírito e as aspirações às alturas, realizam tarefas grandes coerentes à sua natureza, exemplo do nosso irmão António Reis e o Grande Oriente Lusitano; parabenizo e invejo nossos irmãos portugueses dessa virtuosa potência maçônica; por aqui, estamos à procura da nossa. Acrescento que esses caros irmãos, como nós daqui e todos os da Ordem em todos os cantos, precisam urgente  assumir postura mais contundente, mais proativa na questão política das nações; temos que ir sim ao encontro do poder, e uma vez lá, com irmãos em ocupações estratégicas, cobrar comportamentos, atitudes e ajudar na realização dos feitos que todos esperam. Se outra potência comporta-se de maneira permissiva, providências internas devem se desencadeadas, mas não lavar as mãos como se o problema não nos dissesse respeito; um mal maçom mancha a reputação de todos; a sociedade não compreende nossas tolas divisões, nem suspeita da vaidade e do egocentrismo que nos consome.

Agora a palavra do Eminente Past Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano.

Ir. Edson Monteiro  


“A Maçonaria pode contribuir para uma democracia mais saudável”
 Marcos Rebelo 23/09/2011


António Reis - PastGrão Mestre GOL
"António Reis é, até ao dia de amanhã, o Grão-Mestre da obediência maçónica Grande Oriente Lusitano (GOL). É a mais antiga organização maçónica que existe em Portugal, tendo-se formado em 1802. António Reis é Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. De passagem em Viseu, o Grão-Mestre do GOL, acedeu a ser entrevistado pelo Jornal do Centro para falar sobre a organização em Portugal e na região. O Grão-Mestre António Reis vai ser amanhã substituído no cargo por Fernando Lima, ex-líder da Sociedade Lusa de Negócios, gestor de empresas e actual presidente da Sociedade Galilei. António Reis cumpriu dois mandatos de três anos à frente do GOL. Na fotografia desta página, o Grão-Mestre é fotografado junto a um óleo de Manuel de Arriaga, familiar e primeiro Presidente da República Portuguesa.

A Maçonaria justifica-se na sociedade em que hoje vivemos?

A razão principal que levou ao nascimento da Maçonaria mantém-se actual. Tem a ver com a necessidade de construir pontes entre os homens, para além das divergências de carácter ideológico, político, partidário e, sobretudo, religioso. Foi a partir da necessidade de superar essas divergências, de encontrar um local ou uma organização onde se pudesse conviver, debater, ser tolerante e respeitar as ideias dos outros, que nasceu a Maçonaria no princípio do século XVIII, em Inglaterra. Era uma Inglaterra dividida por lutas religiosas e partidárias muito intensas. O que vemos hoje é ainda um mundo muito dividido e partilhado por ideologias e opções políticas e religiosas diferentes e com tendência para cair em fundamentalismos, quer de carácter religioso, quer de carácter ideológico. A Maçonaria apresenta-se como forma de combater esses vícios e esses fundamentalismos e proporcionar às pessoas uma plataforma de entendimento que supere essas divisões. É isso que faz sentido no mundo de hoje em que todos nós estamos cada vez mais a ser testemunhas da gravidade das consequências desses fundamentalismos de vária ordem.

E de que forma é que a Maçonaria tem acção no cenário que acaba de traçar?

Congregando, antes de mais, as elites de cada sociedade e de cada país no culto dos valores da tolerância, fraternidade, compreensão mútua, da procura da verdade sem dogmatismos de qualquer espécie. Nas lojas do Grande Oriente Lusitano (GOL) encontram-se pessoas com diferentes opções religiosas, políticas e ideológicas. Convivem de forma fraterna, discutem os problemas do país, as grandes questões da filosofia e da ciência, sem se hostilizarem. Na sua vida profana, como dizemos, podem ter opções diferentes, militarem até em partidos diferentes, e na sua loja procurarem opções em conjunto para os problemas da humanidade e do país, em particular.

De que forma é que os maçons intervêm na sociedade? Há alguma determinação nesse sentido por parte do GOL?

Reconhecemos uma grande liberdade de actuação para cada membro da Maçonaria. Mas não há dúvida nenhuma que os estimulamos a todos a empenharem-se na área da solidariedade social da filantropia. A dimensão filantrópica caracteriza a maçonaria desde as suas origens. Em Portugal esta forma de actuar teve especial importância quando o Estado-providência era muito frágil no nosso país. Falo em fins do século XIX e início do século XX. Altura em que os maçons foram sempre gente empenhada em organizações de solidariedade social. E fundaram muitas que ainda hoje existem, como o Montepio Geral, fundado por maçons no século XIX. Algumas instituições foram fundadas por maçons e ainda hoje estão na posse do Grande Oriente Lusitano, como são os casos dos internatos de S. João, em Lisboa e no Porto. Dei exemplos de vestígios, quase simbólicos, do que era a imensa actividade filantrópica da Maçonaria portuguesa. Mas o que hoje prevalece na Maçonaria é a dimensão cívica, cultural e ética. O que pretende ser é uma vanguarda ética e cívica que defende grandes valores: a liberdade de consciência, a igualdade, a justiça, a tolerância, a cidadania e a laicidade, naturalmente. A separação entre a Igreja e o Estado foi, em grande parte, obra da Maçonaria portuguesa através dos governos da primeira república. Pretendemos ser defensores acérrimos destes valores. Constituímos uma espécie de elite que está sempre pronta a bater-se por eles e, depois, cada um opta pela melhor maneira prática de os defender. Pode fazê-lo dentro de um partido político, de uma associação cultural e cívica, através do tipo de profissão que acaba por escolher. Tudo isso contribui para levar por diante a defesa dos valores que defendemos...

...Falou na política. Esse é dado como um meio no qual a Maçonaria exerce influência. De que forma existe e como vê essa acção?

É preciso que fique muito claro que a Maçonaria não é uma organização política nem um outro tipo de partido político. Não pretende ser uma organização de massas, muito longe disso, mas sim que os seus membros possam influenciar a vida dos partidos políticos em que militam com base nos valores que apontei. A Maçonaria não é uma organização formada para dar ordens aos partidos políticos ou tentar manipulá-los, nem que lhe obedeçam como marionetes na sua mão. E nem isso era possível pelo que já expliquei. Pode contribuir para uma democracia mais saudável, para evitar sectarismos e posições demasiado fechadas e promover o diálogo entre as diferentes forças políticas. Tudo isso pode ser uma relação útil por parte de maçons na sua relação com a vida partidária e com a vida política. Não telecomandamos os partidos políticos, os governos ou a Assembleia da República. Há deputados maçons sem dúvida, em diferentes partidos, há ministros e secretários de Estado maçons, sempre os houve, mas o que se passa é que não obedecem a nenhuma central de comando. O Grão-Mestre não é o dono de uma central que movimenta os peões no xadrez do tabuleiro político ou partidário...

...Mas qual é a marca que pretendem deixar com a influência que têm na acção de um partido político, por exemplo?

É sobretudo uma marca no plano ético. O maçon tem que ser exemplar na sua conduta ética na política, num partido político ou num órgão de soberania como um governo ou a Assembleia da República. O mesmo deve acontecer se for professor ou gestor num banco ou numa empresa. Deve pautar a sua actividade por padrões de excelência profissional...

...A recente questão que surgiu à volta dos serviços secretos portugueses fez transpirar para a comunicação social que a Maçonaria ou alguns dos seus membros estariam envolvidos. Falou-se por exemplo da loja Mozart e de membros seus que estiveram envolvidos na questão…

A loja Mozart pertence à Grande Loja Regular Legal de Portugal, não é o Grande Oriente Lusitano. Essa é chamada a Maçonaria Regular. Nós pertencemos à Maçonaria Irregular, Liberal e Adogmática. No Grande Oriente Lusitano somos completamente alheios a esse assunto...


...Vivemos em tempo de crise. A Maçonaria está atenta para se adaptar aos novos tempos?

Temos que estar muito atentos a estes sintomas de inquietação que vão proliferando, mas não podemos cair num certo catastrofismo, nem pensar que a democracia está condenada e que se caminha no sentido de uma certa anarquização das respostas políticas. Longe disso. Há que aperfeiçoar a democracia e os partidos. Não vejo alternativas a uma organização democrática em que os partidos políticos continuam a ter um papel fundamental...


...Está no último dia como Grão-mestre do GOL. Foram gratificantes estes anos?

Foram seis anos muito fecundos em que o GOL cresceu bastante e aumentou até o seu prestígio internacional. Aumentou o número de lojas e obreiros. Faltava-nos a implantação em alguns distritos e, sobretudo, conseguimos abrir uma loja na Madeira, a única Região Autónoma onde ainda não estávamos presentes. Nos Açores temos várias lojas e agora já temos uma oficina na Região Autónoma da Madeira...

...Isso acontece numa altura em que há um grande problema político e financeiro entre o Governo central e a Região da Madeira…

É verdade. E não fomos nós os responsáveis do buraco financeiro da Madeira. Mas, concerteza, é útil que a Maçonaria e , em especial, o GOL, estejam agora também presentes na Madeira, o que vai certamente contribuir para melhorar o nível democrático daquele território..."

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