domingo, 3 de abril de 2011

SOBRE O EDITORIAL DA REVISTA A VERDADE Nº479 DE JULHO/AGOSTO DE 2010

Editorial revista A Verdade nº 479 de julho/agosto de 2010


Nesse editorial, é dito à época das eleições no país, que devemos ir além dos templos, transpormos os limites das paredes das nossas oficinas, sugere que devemos deixar de ficar com os braços cruzados e partirmos à ação, encetarmos atitudes de envergadura político-social tendo como ideal enterrar os políticos interesseiros e habituados às manipulações do “ganho fácil” de dinheiro público. Cita-se inclusive o Apóstolo Paulo de Tarso em Gálatas cap. 6 versículo 9 onde parafraseia: “Não esmoreçamos na prática do bem, pois, no devido tempo, colheremos o fruto, se não desanimarmos”.

A Epístola de Paulo aos Gálatas, às Igrejas da Galácia, em 6 capítulos, faz no capítulo 6 em 18 versículos, a abordagem a três assuntos: “Exortação ao apoio recíproco” (vers. 1 a 6), “Exortação à prática do bem” (vers. 7 a 10) e por fim a mensagem “Os que impõem a circuncisão” (vers. 11 a 18). Muito oportuno recordarmos neste momento o conteúdo desse editorial que há nove meses citou Paulo de Tarso e sua epístola, usando-a como base nesse texto. Entretanto, devemos entender o que Paulo nos disse lendo toda a Epístola e não uma frase isolada, um versículo solto, porque assim se podem sugerir interpretações fora do contexto a que o Apóstolo procurou nos dar. Deixo apenas os versículos de 11 a 18 fora desta análise, porque estes discorrem, dentre outros ensinamentos, que o que vai a nosso espírito não pode ser atestado na carne, e não será uma circuncisão que tornará mais próximo de Deus quem quer que seja. Mas atentem, fala também que alguns circuncisados podem só tê-lo feito para fugir à perseguição aos cristãos.(interessante isso! Será que poderíamos fazer correlação entre circuncisão e palavras de apoio ditas "da boca prá fora"? ou com paramentos especiais?) Mas então vejamos o capítulo 6 da Epístola de Paulo aos Gálatas, versículos 1 a 10, no Livro da Lei:

Exortação ao apoio recíproco
6 1. IRMÂOS, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
2. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.
3. Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.
4. Mas prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro.
5. Porque cada qual levará a sua própria carga.
6. E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.

Exortação à prática do bem
7. Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
8. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.
9. E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.
10. Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.

Analisando-se globalmente esses versículos do capítulo 6, percebe-se que Paulo de Tarso procurou nos dizer a respeito da solidariedade que devemos ter pelos que foram surpreendidos por alguma ofensa, e que se estiver em nosso poder, encaminharmos o ofendido com espírito de mansidão, procurando não ser tentado a se transformar no pior e no mais injusto dos inquisidores (“encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado”). A solidariedade é abordada quando nos lembra que devemos nos ajudar ante as vicissitudes enfrentadas (“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”) e não se julgar inatingível, melhor que os outros, pensando que títulos e poderes momentâneos significam alguma coisa de valor atemporal, entendendo que um cargo por si nada representa, a não ser, como se conduz nele (“Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo”) e ser justo permitindo que cada qual tenha o direito de mostrar sua obra e provar sua inocência, e não agir para se projetar em cima da publicidade conquistada no tripúdio dos injustiçados, ao gosto dos desinformados, para ficar bem com a opinião instável de uma parcela dos que o rodeia (“Mas prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro”)(“Porque cada qual levará a sua própria carga”)

Depois do apoio recíproco que devemos cultivar entre nós, vem a exortação à prática do bem, e alerta que o que semeamos é de nossa escolha, mas a colheita não, portanto, não se pode errar no plantio das sementes, porque Deus não tem pena, não intervém pelos erros, e a lei do retorno é certa: se imolarmos, se formos injustos, se plantamos ventos, colheremos imolação, injustiça e tempestades (“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”) Se o que se busca são todos os alimentos da vaidade, como a bajulação, por exemplo, isto desaparecerá quando a investidura do cargo cessar, porque muitos que rodeiam o poder são embalados pela corrupção, alijados dos valores eternos do Espírito (“Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna”). Fazer o bem deve ser feito sempre, sem nos cansarmos, a todos, é claro, mas especialmente aos nossos irmãos, pois se desejarmos intervir na sociedade fazendo o bem e praticando a justiça, a prática deve ser notória entre nós dentro da maçonaria (“E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”) (“Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé”).

Em resumo, a Epístola de Paulo nos diz, portanto, que a prática do bem deve ser embasada e antecipada pelo recíproco apoio entre os irmãos, um procurando aliviar a carga do outro, e os que têm algum poder no momento, precisam ter a mansidão na alma e não se julgar acima dos seus iguais, porque engana-se o que crê que o tempo parou, e que o futuro lhe pertence. Quanto à prática do bem, fica bem claro que a semente escolhida é a que será ceifada, colhida, se boa, bons frutos, mas Deus não se escarnece pelos maus plantadores. Pela epístola, fazer o bem parte do princípio que deve ser algo universal, a todos indiscriminadamente, especialmente aos domésticos da fé.

Será que quando se ajustou o discurso desta matéria às verdades da bíblia, atentou-se realmente à relação do que está explicitamente dito na Epístola, o que foi apregoado no editorial, e o que vem sendo executado na prática? Se seguidores atentos às verdades do Livro das Leis, as atitudes à frente da GLESP fazem sentido às palavras bíblicas? Pois entendo que o Ato 161 demonstra exatamente o contrário da Epístola de Paulo de Tarso aos Gálatas, ao pré-julgar inocente injustiçado, aumentar a carga da injustiça e maledicência sobre as suas costas, usar o rigor do sarcasmo (longe da mansidão) ao tributar coação em ações legítimas da justiça e ao desobedecer peremptoriamente a ordem judicial. Esses citadores de Bíblia, enganam-se quando se julgam especiais pelos  cargos que ocupam e não por suas atitudes (que o cargo lhe dá oportunidade de demonstrar). Esquecem-se que o próprio Paulo de Tarso disse que cada um deve provar sua obra (e sua inocência), e não somos nós que vamos dificultar os caminhos dos irmãos que estão na lida para tal (... prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro” - “Porque cada qual levará a sua própria carga”)

Quanto à prática do bem, lá está escrito, fazê-la a todos, especialmente aos domésticos da fé, então, cá entre nós, como entender alguém que prega fazer o bem e praticar a justiça à sociedade, se dentro da própria casa, e entre os domésticos da fé, seja o primeiro a empunhar o malho do julgamento precipitado e da manutenção do cerceamento do estado de direito. Veja também o que está escrito no editorial:

“... Quando abraçamos o sublime labor de tornar feliz a humanidade, demos os braços a outros irmãos, os quais, bem antes de nós, iniciaram a semeadura. Herdamos o compromisso de seguir plantando sementes de um futuro melhor, mais digno e promissor para todos os seres humanos”.

Quando e quem deu braços aos irmãos que bem antes iniciaram a semeadura? Bem, talvez estejam de braços ao nefasto passado recente, e aí sim, tem lógica o comportamento de dar continuidade àquela semeadura!

Também dá para entender agora porque um discurso tão contundente, inclusive muito atual àquela ocasião das eleições no nosso país, não passasse de mera retórica, o que podemos ver com nitidez hoje, longe daquele momento. Até hoje, passados seis meses das eleições no Brasil, eu pergunto: O que a GLESP fez de concreto em relação à propositura daquele momento? Veja, com atenção, o que mais foi dito naquele editorial:

“... Nosso trabalho não pode se restringir às paredes das oficinas maçônicas. Vamos transpor os limites do Templo com a certeza se a semeadura é árdua, os frutos serão doces e revigorantes àqueles que se pautam pela justiça e pelo bem comum”.

Mas o que a GLESP faz de fato até agora? Defende os erros e as injustiças do passado dentro da própria instituição; mantém o afastamento de irmãos qualificados, com muralhas e fossos intransponíveis, pois acredita que seus intentos podem brilhar mais que a política do “feijão com arroz” da atual administração; espalha medalhas e cargos como se fosse o fulcro de sua função. Será que não vimos tudo isso num passado recente? Só não se comprou, até agora, imóveis inúteis, mas logo poderão reparar isso, com a compra e a construção do asilo maçônico (ou abrigo para os idosos). Pois que tudo isso tem sido feito tão bem, não sobra espaço para que algo de útil  se faça, que seja verdadeiramente eficaz na sociedade através da maçonaria de hoje: os discursos são só discursos que nada tem a ver com a prática vigente. Uma coisa é falar, outra é fazer; uma coisa é citar verdades escritas por valores da humanidade, outra é entendê-las e incorporá-las como valores morais de conduta. A realidade é que estamos repleto de falastrões fanáticos por medalhas e cargos, que têm medo do esplendor do passado antigo e do recente, porque esses tempos podem ofuscar a mediocridade que permeia o presente.

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