segunda-feira, 14 de março de 2011

A ESCOLHA DO REI


ra uma vez um reino muito, muito distante, que tinha uma Constituição monarquista republicana que previa a troca do rei a cada período de mandato ou quando este não tivesse mais condições políticas para continuar seu reinado. A Carta Magna do reino não contemplava a sucessão automática à coroa pelo primogênito e sim através de um sufrágio universal, onde as escolhas sempre recaiam sobre o herdeiro ao trono escolhido pelo monarca quando ainda no inicio do mandato. Isso tinha naturalmente o apoio da maioria do reinado, pois sempre era escolhido o príncipe mais experiente, aquele que vivia funções de braço direito como vice-rei, ou seja, havia sucessão com novas idéias, mas não havia interrupção no governo, o que era bom.

O futuro rei já vinha então sendo preparado, já havia um sucessor natural ao trono, o príncipe vice-rei, apoiado por uma enorme quantidade de amigos súditos, pela comunidade de pescadores do reino, com amizades e alianças de várias comunidades poderosas do interior, e especialmente tinha o compromisso firmado com o rei para ocupar no futuro o trono. Esse vice-rei tinha larga experiência executiva, já desempenhava muitas atividades estratégicas além de fazer as vezes do rei em situações críticas, na verdade uma função chamada "segurar a peteca”, pois ocasiões sem conta o monarca senil, fã de "bailes da saudade", precisava ser representado ao faltar a compromissos políticos importantes, deixando  de comparecer à assembléia dos deputados para ir dançar em bailes no interior do reino.

O rei com frequência surtava de raiva no seu gabinete real, ficava agressivo, ameaçava bater com seu cetro proferindo cabeludos palavrões. Passada a fúria, quando se recompunha, apresentava-se afável com seus súditos, contava “causos” e histórias engraçadas, sempre cativando a simpatia dos muitos que não o conheciam na intimidade, e que por isso era tido  como um sujeito "bonzinho", chegando a ser chamado carinhosamente de "reizinho".  Pelo contumaz destempero, pela falta de realidade e de  objetividade nos projetos do governo, muito falatório começou a aparecer, e a cada  polêmica criada, uma saraivada de apelidos apareciam, os mais variados e injustos, tais como, "reizinho duas caras", "zeca marmita", "fanático do asilo", dentre outros... muita maldade! Mas, a contragosto, era chegado o  momento da escolha do sucessor ao trono.

O soberano reizinho, já desgastado pelo exercício sem realizações de seu governo, evitava encontros políticos onde não tinha muito a dizer, onde se perdia, e ao invés disso, ficava isolado pelos cantos no palácio, sonhando de forma quase obsessiva com a construção de uma futura casa para ir quando saísse do palácio, quando se retirasse do poder, uma espécie de abrigo de luxo para si e para seus amigos velhos mais próximos que denominou "Retiro do Monarca Idoso". Tinha o sonho de realizar uma obra maravilhosa como as pirâmides do Egito antigo, um monumento para si, para seu repouso eterno e pelo que seria lembrado para sempre. Não importava o custo da construção, da manutenção, nem tampouco o sofrimento do povo, pois entendia que uma obra divina como essa justificava o esforço descomunal de todos.  

Chegada a hora da escolha do novo sucessor, o rei refletiu melhor sobre a sucessão e resolveu chamar seus dois jovens filhos, e reunindo-se a eles disse: “Chegou o momento em que devo escolher o próximo rei, que será um de vocês”. Seus dois filhos eram boas pessoas mas muito diferentes, um príncipe líder de opinião, forte, já no cargo de vice-rei, determinado, com projetos próprios e novas idéias diferentes das do pai para seu reinado, e o outro um príncipe seu irmão que mal nenhum fazia a quem quer que fosse,  entretanto, também nenhum bem protagonizava, "cumpria tabela", apenas ficava à sombra, era uma pessoa que ninguém do reino conhecia, era um total subordinado às vontades do pai. 

O príncipe mais experiente ficou surpreso e se revoltou, pois não cabia a escolha entre os dois irmãos naquele momento, não era o que se esperava em face do que se estabelecera há tempos no reino, especialmente porque haveria de ser considerada a palavra empenhada por um rei. O príncipe menos experiente, também surpreso, é claro, se calou e procurou agradar o pai e se postar submisso como sempre fora, defendendo inclusive os projetos escalafobéticos do rei, vislumbrando, naturalmente, a oportunidade de ouro para se tornar soberano no reino, mesmo que tutelado pelo pai e sua corriola; se tornar rei era algo até então impensável.

Mas o reizinho fez pior, depois da primeira conversa, chamou novamente os príncipes e deu-lhes a notícia: "Depois de refletir com meus botões, decidi ser coerente com a conduta que sempre pautei na vida. Resolvo tomar uma decisão que não tem lógica alguma, mudando minha opinião mesmo que faltando com a palavra empenhada". Com isso, a escolha não recaíra para o melhor para o reino, não fora a escolha do mais capacitado para governar, e sim o príncipe menos experiente, aquele com quem não tinha prévio compromisso, aquele que julgava que poderia manobrar. Tomando essa decisão pensou nos  objetivos pessoais de não abandono do poder, contornava o problema que enfrentava que era sua saída do poder estabelecida pela Constituição do reino, e como não tinha apoio para mudá-la, pareceu-lhe o golpe de mestre se perpetuar politicamente através de um poste. 

O príncipe vice-rei inconformado, partiu para disputar as eleições do reino contrapondo-se a seu irmão, agora adversário em outra chapa, motivado que estava pela esperança de assumir um reino com legitimidade e isenção, livre para tomar as decisões que escolher com seu conselho e não como subserviente de um monarca manipulador. Escolhe ser honesto e liderar com a confiança na sua capacidade, “confiança no seu taco”, e não ser um marionete fruto da manipulação de poder de uma máquina. O vice-rei resolveu não se curvar à prepotência de alguém que se acha acima do bem e do mal ao julgar que decisões intempestivas são mais valiosas que palavra empenhada. O vice-rei resolveu lutar contra o pai que tentou eleger um poste sem vivencia executiva no reino  com fins egoístas, acreditando que o sucesso só vem com trabalho duro, dedicação e longa experiência, o contrário da fantasia arquitetada pela manipulação real.

O vice-rei acaba ganhando as eleições e faz um reinado de liberdade, de igualdade e de fraternidade com todos e para todos; o reizinho deposto se isola, cai no esquecimento e fica morando no terreno do inacabado "Retiro do Monarca Idoso", onde se especializou em reflorestamento, plantador de árvores; o príncipe derrotado, que até então não tinha grande expressão, acaba colaborando com o irmão na condução do novo reinado, torna-se conhecido, aumenta sua experiência nos assuntos do reino e fica aliviado por não ter de assumir responsabilidades para o que ainda não contava com experiencia suficiente. No fim, todos no reino viveram felizes para sempre!

"Se você plantar honestidade, colherá confiança. Se plantar humildade, colherá grandeza. Se plantar perseverança, colherá satisfação. Se plantar trabalho duro, colherá sucesso. Se plantar perdão, colherá reconciliação. Se plantar fé, colherá uma safra. Portanto, seja cuidadoso com o que planta hoje; isso determinará o que você colherá amanhã". "A pessoa honesta anda em paz e segurança, mas a desonesta será desmascarada" - Provérbios 10.9 

"As pessoas direitas são guiadas pela honestidade. A perversidade dos falsos é a sua própria desgraça" - Provérbios 11.3


Ir. Edson Monteiro

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Ir:. Edson:
Se tal estória fosse apenas uma fantasia, poderíamos dormir tranquilos. Porém, sempre sobram respingos e consequências ruins àqueles que que tomam carona nessas empreitadas.

Dr Edson Monteiro disse...

Caro irmão

Gostaria de melhor esclarecimento sobre seu comentário. Que carona nessas empreitadas? O irmão quer dizer os que ficam ao lado da iniquidade ou os que as criticam? E que respingos e que consequências seriam? Estou curioso.

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