Vamos fazer algumas reflexões sobre a nossa Grande Loja.
Para começar, vamos tecer rápido comentário a respeito do judiciário. Você já pensou em coisa mais imprópria que o poder executivo da Ordem tenha autoridade sobre os ministros de todos os tribunais da GLESP? O ideal seria que as eleições para todo o judiciário fossem feitas na metade da gestão do executivo, com pelo menos duas chapas a disputar o pleito, caso contrário não se convocaria eleições; é isso, número mínimo de duas chapas. Isso seria interessante porque não teríamos irmãos envolvidos em duas campanhas simultâneas, do executivo e do judiciário, que pode gerar aparelhamento político. Mas o pior é o que sempre acontenceu e temos presenciado ultimamente: decisões do judiciário serem desautorizadas por não estarem ao gosto do sereníssimo. Um judiciário maçônico que não tem autonomia interessa a quem? Precisamos fazer dessa reflexão algo de útil a propor em nossas assembléias, que seja de consenso, que definitivamente mude esse estado de coisas. Lutemos por um judiciário maçônico que aplique a lei nas questões maçônicas em todos os níveis da administração e na sociedade maçônica em geral, sem interferências; um judiciário com uma promotoria de justiça, uma defensoria e uma procuradoria que funcione sem interferência do executivo como é hoje, e sem atribuir funções judiciais de primeira instância a mestres instalados das regiões que não tenham a formação jurídica na vida profana.
E o nosso poder legislativo? Vocês já se perguntaram se o nosso modelo de legislativo é eficaz, ou pelo menos eficiente, para nós e para a instituição? Os Veneráveis Mestres das Lojas integram o poder legislativo de nossa potência, quando representam suas oficinas nas assembléias. Será que desempenham realmente o papel que lhes cabe enquanto conscientes agentes do legislativo, que votam projetos, que apresentam proposições e analisam com firmeza e com convicção tudo que aparece nas Assembléia legislativas da GLESP convocadas a cada três meses? Na verdade, a grande maioria dos Veneráveis chegam nesses eventos às cegas, sem conhecimento de pauta, sem posicionamentos frente às discussões que enfrentará. Na maciça maioria, a opinião desses representantes é formada no próprio momento da assembléia, pois é só lá que tomam ciência do completo conteúdo da pauta, propiciando decisões equivocadas em face da surpresa e da irreflexão sobre esses assuntos, e o que é pior, ficam suscetíveis à manipulação. Onde já se viu o exercício do poder legislativo às cegas desse jeito e só durante assembléias! Não temos um legislativo de verdade, atuante, focado e isento. Eu nunca vi representantes do legislativo (veneráveis) apresentarem projetos de lei; nunca vi em assembléia, os veneráveis discutirem pela ordem quaisquer projetos, ou emendas a projetos, ou propostas de emendas à Constituição Maçônica (PEC); nunca vi disputas de bancadas para os projetos saírem de uma forma ou de outra, nunca vi ocorrer essa prática legislativa verdadeira, legítima e salutar. Realmente não vimos, não vemos e não veremos nunca se a estrutura desse legislativo inoperante continuar a vigorar. Nunca se vê um representante propor algo de bom para sua loja, para seu distrito ou para sua região. O que temos assistido é o protagonismo da administração da GLESP em torno de uma grande festa para amparar suas próprias propostas, projetos de tudo quanto é interesse exclusivo da administração, do executivo e suas comissões, que em geral não revertem em benefícios específicos às lojas: não é de agora, sempre foi assim! A GRANDE MAIORIA ESTÁ SILENTE, CONIVENTE, INERTE. Há uma crença (não sei aonde vai de verdade nisso) que afirma que o povo espanhol, muito crítico, muito combatente contra a política e seus políticos, se servem de um ditado que diz: “Si hay gobierno soy contra”. Parece muito radical, mas pelo menos dá idéia de não se iludir, de não se deixar manipular. Pois parece que nossos representantes do legislativo agem exatamente ao contrário: “Se tem governo estamos SEMPRE a favor”. Aí dá no que já deu: compra de imóveis inúteis, compra de carro Mercedes-Benz velho, criação de Supremo Conselho Espúrio, criação de asilo que vai consumir recursos que não teremos, tudo feito no “achismo”, no voluntarismo; é sempre muito desperdício, e sempre apoiado pelas assembléias; será que não vamos parar com isso? É triste, mas é assim que agimos: somos ausentes e estamos pagando por isso. AS ASSEMBLÉIAS APROVARAM E APROVAM TUDO! Tem outro ditado que vou disparar para nossa reflexão: “Cada povo tem o governo que merece!”. Pois então, as cabeçadas que sofremos geradas pelas administrações da GLESP não ocorrem por culpa só dos dirigentes incautos, mas por nossa culpa especialmente, porque não botamos um freio nesse estado de coisas, deixamos a "coisa" proliferar. Não adianta escolher um suposto douto magistrado porque já vimos que ele não vai administrar um tribunal, e aliás, precisamos de um representante que não mais escolha defender seus interesses particulares. Temos que escolher melhor nossos dirigentes para que tenhamos orgulho de fazer parte da nossa potência, e começarmos de novo a achar graça em ser maçon. Nosso voto tem que deixar de ser exercido por amizade ou por simpatia. Do jeito que estamos agindo, cada um na sua, cada loja divorciada das outras, estamos divididos, enfraquecidos, impotentes. Já dizia Maquiavel: “O príncipe deve providenciar a divisão e a separação para melhor dominar”: é o literalmente conhecido “dividir para governar”. Acho que já percebemos que quem segue essa máxima são os vazios sem visão que precisam da divisão para valer sua vontade. O que temos hoje é uma extrema ação política do executivo da GLESP e uma total inoperância da parte de todos nós, das lojas, dos representantes legislativos das lojas nas assembléias; assim fica difícil: de um lado, a administração (o executivo) da GLESP com máquina na mão, com um enorme ímpeto em mandar, dominar, julgar e inclusive até legislar, e do outro lado nós passivos assistentes de tudo isso. NÃO ADIANTA SÓ RECLAMAR, PRECISAMOS AGIR! Muitos veneráveis de Lojas não vão às assembléias, simplesmente não vão ou mandam prepostos, por lhes faltar motivação e sobrar um sentimento de inutilidade desses encontros. Como as assembléias teriam uma pauta mais interessante e motivadora? Com projetos criativos e ações amplamente participativas e mais motivadoras. Talvez se criássemos uma figura mais especializada e focada nas discussões e proposições de projetos úteis, conseqüentes, transformadores e modernizadores da Constituição Maçônica, das leis do regulamento geral, da justiça penal maçônica, da justiça eleitoral, do pecúlio e tudo o mais, aí, talvez, teríamos alguém que não se divide no comando de suas lojas e se preocuparia exclusivamente com as questões de uma comunidade maçônica, distrito ou região, e se acabariam as questões abandonadas, as disposições fossilizadas por não terem quem se ocupe delas. Talvez fosse o caso de criar-se a figura de deputados maçônicos, com reuniões específicas e sistemáticas nas questões legislativas da nossa Ordem, desenvolvendo projetos surgidos das bases com melhores chances de funcionamento das nossas instituições, melhora das condições da vida dos obreiros e de suas lojas. A atenção voltada às aspirações e demandas de todo um distrito ou uma região, se traduziria em discussões nas assembléias com ações concretas na capilaridade da nossa estrutura, e acabaríamos com o “quebra-galho” de veneráveis fazendo o papel de legislativo, uma dupla função que exclui o ofício de legislar. Com uma função determinada por lei em nossa constituição como a de deputado maçônico, teríamos os irmãos com a aptidão para esse ofício, com a vontade para esse trabalho, escolhidos pelo voto e que teriam imunidade parlamentar que inibiria arbitrariedades do executivo, como coberturas de direitos aos opositores políticos que agem dentro da ética, do decoro e da fraternidade. Teríamos um legislativo eficiente, com agendas, projetos e demandas, e eficaz ferramenta de mudança do que nos desagrada. Esses parlamentares teriam suas comissões e seus fóruns de disciplina.
E o terceiro poder, o executivo? Bem, talvez o executivo devesse ficar entregue a irmãos eleitos especificamente para esse ofício, uma espécie de diretoria executiva, uma gestão profissional em que esses gestores seriam os responsáveis pela administração da Instituição, um trabalho técnico de dirigentes preparados que sejam administradores, executivos, e não como temos hoje, leigos em administração que não entendem do ofício de gestão e que com o poder delegado fazem o que querem e vão aprendendo com erros, muitos erros. É assim que devemos dar continuidade à administração do nosso patrimônio?
E a figura do Grão Mestre?
E a figura do Grão Mestre?
Temos visto a figura de tão nobre função se envolvendo em disputas menores por todo canto, envolvendo-se com irmãos e lojas em toda parte; vemos um cargo de notória majestade tornando-se alvo de críticas demeritórias porque se mete em assuntos demais, onde não deveria, prejudicando lojas (exemplo: Loja Astros da Arábia, Loja Milenium, Loja Cavaleiros de São João). Se a figura do Grão Mestre é tido como representante maior da instituição, figura de aura esotérica, detentor de grande conhecimento filosófico da instituição e de assuntos correlatos, deve ser a voz e o exemplo de sabedoria que irradia serenidade, austeridade, seriedade e amor pela causa maçônica e amor fraterno pelos irmãos indiscriminadamente. Enquanto o legislativo cria leis, cria condições, o judiciário as faz valer, o executivo as executa, o Grão-Mestre contemporiza, modera, acorda, e representa a instituição em toda a sociedade; jamais deveria julgar valores tradicionais da nossa Ordem e praticar punições precipitadas. Precisamos parar de ver a figura de cargo tão majestoso praticando piadas, ações injustas de coberturas de direito, tomando partido de tudo e se tornando litigante em ações na justiça maçônica e na justiça comum contra irmãos do quadro, dando mau exemplo de desobediência judicial. A figura do Grão Mestre, mais majestosa e menos executiva, como no governo parlamentarista britânico, com um executivo focado na execução das metas de governo estabelecidas pelo Grão Mestrado, seu conselho, pela assembléia das Lojas, pelo legislativo atuante exclusivamente às funções parlamentares, pelo judiciário isento, autônomo, técnico e soberano. Assim, teríamos orgulho de nossa instituição se todos os agentes do governo maçônico estivessem cada um na sua função, pessoas certas nos lugares certos, sem acúmulo de funções, sem desvios, sem duplicidade e sem os desvirtuamentos próprios dos que ocupam função sem o devido preparo. Não precisamos de irmãos metidos a engraçado, contando piadas nos "copos d'água", para dar sentido à ligação que temos nas Lojas; precisamos é pautar nosso comportamento por austeras atitudes, pragmáticas e úteis à sociedade em que vivemos, aí sim, haverá graça na maçonaria.
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