sábado, 26 de março de 2011

MAÇONARIA NUNCA FOI RELIGIÃO

As Lojas maçônicas atualmente trabalham em "templos", o que parece uma contradição, já que se entende que "templo" é local de prática religiosa, e maçonaria todos sabem que não é religião. Na verdade, a maçonaria considera seus templos como lugares sagrados, mas não de evocação religiosa, entendendo-se "sagrado" como "reservado", onde se cultua algo precioso, mas não necessariamente uma "religião". O uso do termo vem da antiga Roma, do latim "templum" que significava o local onde os sacerdotes se posicionavam, a céu aberto, para observá-lo e às manifestações "celestiais" da natureza. Note-se que o termo "contemplar" compõe-se, precisamente, de "cum + templum", com o significado de "estar absorto com o tempo", vindo, etimologicamente, a assumir a carga mística que hoje encerra.


Por que esses locais reservados pelos maçons para o trabalho de suas Lojas são denominados templos? Isso não acabaria dando a impressão de que aí se pratica uma religião? Sim, isso é mesmo tido como verdade por muitos nas comunidades no entorno desses templos, mas o pior, isso ser aceito como verdade até por muitos integrantes das próprias lojas maçônicas.

No passado, os locais das reuniões das lojas maçônicas se davam nos adros das igrejas, das catedrais, ou, como era mais comum, nas tavernas, nas cervejarias, nas estalagens e hospedarias, em salas reservadas, depois que os maçons deixavam seus trabalhos que eram em geral na construção de obras civis góticas. Os trabalhos maçônicos nada tinham a ver com templos.

Quatro Lojas inglesas que fundaram em 1717 a Grande Loja de Londres e Westminster, cada uma se reunia em quatro locais distintos: 1) O Ganso e a Grelha (The Goose and Gridiron); 2) A Coroa (The Crown); 3) A Macieira (The Apple Tree) e 4) O Copázio e as Uvas (The Rummer and Grapes), sendo cervejarias as duas primeiras e tabernas as duas últimas, que emprestavam seus nomes para essas Lojas que, na época, ainda não costumavam ter nomes distintivos próprios, como hoje.

Fundada a Grande Loja de Londres e Westminster (24/06/1717), demorou muito ainda para que as lojas ganhassem espaços próprios para seus trabalhos; elas continuam se reunindo nos mesmos locais de sempre, em sua grande maioria, porque era costume ocorrerem as reuniões às mesas de fartas refeições, os maçons comendo, bebendo e discutindo seus temas e até mesmo "admitindo" novos obreiros. O simbolismo, entretanto, já estava presente, mesmo porque ele é da essência da Instituição. Assim, durante as reuniões, nesses locais, riscavam sobre o chão os desenhos maçônicos (colunas, trolhas, compassos, réguas, esquadros, etc.), ou então dispunham de uma espécie de tapete, onde tais desenhos já estavam previamente grafados.

Foi somente em 1775, com a pedra fundamental lançada a 1º de maio, que tem início, em Londres, na “Great Queen-Street”, a construção do primeiro templo maçônico, o "Freemason's Hall". Soberbo, majestoso, imponente, belíssimo, foi inaugurado um ano depois, no dia 23 de maio de 1776, com as características que conhecemos hoje. Na França, em 1788, também se constrói o primeiro templo maçônico. Desde então, as Lojas Regulares foram proibidas de voltarem a se reunir em tavernas e ambientes similares. Esse primeiro templo maçônico seguiu os mesmos princípios de orientação e divisão interna das igrejas anglicanas da Inglaterra, que, por sua vez, obedeciam ao modelo do Templo de Salomão; outras influências se fizeram sentir, ao longo do tempo, perseguindo-se a intenção, por exemplo, de que o templo maçônico represente a terra e o universo ao pintar o teto como um céu cheio de estrelas, de planetas, o Sol e a Lua, lembrando um costume egípcio (Templo de Lúxor); enfeiitaram-no depois com as colunas Jônica, Dórica e Coríntia, mais as estátuas de Minerva, Hermes e Vênus, e as Doze Colunas Zodiacais, como num templo greco-romano. Outra forte influência foi a do Parlamento britânico, com a disposição dos assentos, onde o Primeiro Ministro tem assento na “Great Chair”, ao fundo da sala (oriente), e fica ladeado pelos líderes do governo e da oposição. Os parlamentares restantes ficam no resto da sala (ocidente), sentados uns em frente aos outros, separados por um corredor. A disposição assim, triangular, no ápice, a “Great Chair”, ao lado esquerdo e lado direito do corredor, os parlamentares da situação e os da oposição. Atualmente, há os parlamentares independentes que se sentam no corredor central, de frente para a “Great Chair”. A sala que antecede esse local, do lado de fora, chama-se "Sala dos Passos Perdidos", que foi também adotada nos templos maçônicos. Com a posterior proliferação de ritos, os templos maçônicos foram sendo alterados, ainda que, na essência, guardassem as mesmas peculiaridades do original.

CONCLUSÃO: Livres pensadores secretos e atuantes nunca precisaram de templos para praticar maçonaria, muito ao contrário, depois da advinda destes parece que a maçonaria não se transformou de operativa para especulativa, mas de operativa para inoperativa. Antigamente, depois de um dia de labor intenso, encontravam-se nossos irmãos em folguedo nas suas reuniões em tavernas, onde se deliciando com bons vinhos, cervejas e víveres apetitosos, arquitetavam, articulavam e agiam em prol de ideais úteis e práticos à sociedade. O estruturalismo das potências, o militar disciplinamento nos templos mais que engessaram os descendentes desses antigos livres pensadores, que agora mais se confundem e se perdem nas excessivas religiosidades e esoterismos praticados nas atuais reuniões que pouco têm a ver com o fulcro da maçonaria. Cultura esotérica é coisa importante, mas o embasamento da maçonaria na estéril discussão filosófica divorciada da ação da luta social fez com que chegássemos ao que temos hoje: maçonaria especulativa que venda os seus adeptos e os posta no caminho da especulação de braços cruzados. Melhor seria voltarmos às tavernas, nosso natural habitat; talvez, por isso, gostamos bem mais dos copos d’água do que as longas jornadas templárias. Melhor seria juntarmos esses pensadores revolucionários no seu próprio habitat, nas suas tavernas maçônicas, como dantes, aos moldes de sua origem, sem o engessamento das reuniões em templos, com escasso tempo, com imposição disciplinar, ordem das palavras, protocolos, rituais, boletins infindáveis e ordens do dia de mesmos conteúdos que pouco acrescentam, teorias sem prática, dissonantes do comportamento e da necessidade dos obreiros. Operar é a palavra de ordem; voltemos a ser operativos, a planejar nossas ações calcadas na realidade social, discussões e planejamentos que funcionem, regados a cerveja, bons vinhos e bons víveres, como antigamente.



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