Era uma reunião de uma Fraternidade séria, que se reunia de portas fechadas, e da qual só os membros da Fraternidade, que se denominavam de Irmãos, podiam participar. A reunião estava começando. Estava em andamento o ritual de abertura da Sessão, quando ouviu-se batidas na porta, de modo a se identificar que era um Irmão quem estava batendo. O Presidente pediu que o Irmão que fazia o papel de Mestre de Cerimônias dessa reunião fosse verificar quem batia na porta do salão. O Irmão foi até a porta, abriu-a, conversou com quem batia e voltou informando que era um Irmão do Quadro da Fraternidade quem batia. Só que estava tão bêbado que não se aguentava em pé; disse que temia que o irmão caísse a qualquer momento e se machucasse, de tão bêbado que estava.
O Presidente, diante da situação, meditou durante algum tempo, pensou da seguinte forma:
“ Se eu deixar meu Irmão lá fora, nesse estado, ele poderá cair na rua, ser atropelado por algum veículo, ser acidentado gravemente na queda, ser roubado, etc...”
E tomou uma decisão que surpreendeu a todos: mandou que o Irmão que fazia o papel de Mestre de Cerimônias colocasse uma cadeira no fundo do salão, junto a outro Irmão, amparasse o Irmão embriagado e o colocasse sentado nessa cadeira, sob a assistência do Irmão que estivesse próximo a ele. A ordem foi cumprida e o Irmão, tão logo foi colocado sentado adormeceu profundamente. A reunião prosseguiu sem problemas, os assuntos da Ordem do Dia foram tratados como de costume, e o Irmão embriagado continuava profundamente adormecido, quase em coma alcoólico.
Chegou, então, o momento em que a palavra foi franqueada para tratar de qualquer assunto. Aí vários Irmãos se manifestaram, uns criticando e condenando a atitude do Irmão embriagado, achando que se tratava de uma falta gravíssima, passível de expulsão da Fraternidade. Uns pedindo imediata punição do mesmo com severidade. Outros criticando abertamente a decisão do Presidente, declarando que ele errara ao dar acesso ao Irmão embriagado, que isto profanava o ambiente da reunião, que não era admissível que um Presidente da Fraternidade tomasse aquela atitude que ofendia a todos. A palavra continuou franqueada, todos fizeram uso da mesma e chegou a hora do Presidente falar, vez que as normas da Fraternidade exigiam que ele fosse o último a se pronunciar.
O Presidente disse:
- Meus Irmãos: Ouvi com atenção a todos os pronunciamentos. Estais todos certos em não aprovar a atitude do Irmão, que veio a este local de trabalho embriagado. Entretanto, vou contar um caso que certamente poderá a aliviar o vosso julgamento, a respeito da decisão que tomei. Prestai atenção:
“Em um presídio havia um preso, condenado por crimes terríveis alguns cometidos com requintes de perversidade; homicídios, assaltos e várias outras ações criminosas foram cometidos por ele. Sua culpa tinha sido provada, sem margem de dúvidas, em julgamento legal e ele fora condenado a várias penas, que totalizavam mais que o seu tempo de vida futura. Podia-se dizer que fora condenado a prisão perpétua.
Esse condenado recebia com freqüência quase diária, a visita de uma jovem, que lhe levava roupa lavada, um lanche, um livro ou alguma utilidade. Já era conhecida pelos guardas do presídio pela sua assiduidade e dedicação ao preso.
Um dia, a Direção do presídio foi mudada e o novo Diretor mandou que se fizesse um levantamento das pessoas que freqüentava, com regularidade o presídio. A jovem em questão foi uma das pessoas notadas pela investigação. Fez-se uma investigação da sua vida pessoal e familiar e nada foi constatado. Era uma pessoa trabalhadora, honesta e querida por todos que a conheciam. Num dia de visita, então, o Diretor do presídio mandou chamá-la ao seu gabinete e disse-lhe:
- Minha jovem. É muito estranho que você venha com freqüência a este presídio e dê assistência com tanta dedicação a um preso, pessoa que, quando em liberdade era perverso, verdadeiro monstro, cometia os mais atrozes crimes, não tinha compaixão nem respeitava a vida do seu próximo. Porque você o assiste com tanta dedicação ?
A jovem respondeu:
- Tudo o que o Senhor falou é verdade. Esse preso está pagando pelos crimes que cometeu. Mas há um motivo que me fará vir aqui sempre, se possível até o fim dos meus dias e prestar-lhe minha assistência pessoal. ELE É MEU IRMÃO."
A reunião foi a seguir encerrada, e todos se retiraram pensativos, carregando o Irmão adormecido
Ir. Domingos Ramos
"Oh! Quão bom e quão suave é viver unidos os Irmãos..."
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