ra uma vez em um reino muito, muito distante, um garoto que se chamava Tico, nome dado por sua mãe em razão de ter nascido tão pequenino, delicado e franzino que parecia um esquilinho iqual ao daquelas das histórias infantis que tanto gostava. Tico vivia inconformado com o que julgava falta de sorte na vida, pois era magrinho, feio, falava demais, era discriminado e vivia feito pária porque gostava de fazer chacotas de tudo e de todos, e seu maior defeito residia no fato de costumeiramente falar mal das pessoas pelas costas.

Tico tornou-se um homenzinho franzino que acalentava o sonho de ser ator de teatro dramático, mas pelo fato de ser pobre não reunia condições de melhor aprender o ofício nos meios acadêmicos daquele reino em razão dos altos custos, e também não seria aceito nas escolas de dramaturgia alguém tido como ele era, sem a devida compostura, desmazelado e gozador, predicados incompatíveis com a respeitabilidade que a profissão de ator dramático exigia.
Tico que se julgava bom ator, trabalhando mesmo com a falta de conhecimento técnico, pois se achava autodidata, resolveu atuar com o que sabia naturalmente, a comédia, fazer graça, e por meio de favores conseguidos criativamente sem que se percebesse, foi descolando caronas em carruagens e carroças, filando jantares gratuitos em casas noturnas espalhadas por todo o reino onde trocava completa hospedaria por números de micagens e mágicas para o deleite da ingênua platéia. Os povos eram ludibriados pela franzina, humilde e astuta figura do homenzinho ator, que se mostrava um engraçado amigo muito querido, mas que na verdade não nutria amor nem consideração alguma por quem quer que fosse, sendo o único objetivo em seus arroubos saltimbancos, o de ser conhecido como do bem e de parecer ser confiável e competente, algo como “Lulinha paz e amor” e “Sasá Mutema, o Salvador da Pátria”!
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"Tiquinho e seus amiguinhos" |
E o homenzinho afável e espirituoso, em contatos rápidos e superficiais que não possibilitava conhecer-se seu real caráter, foi conquistando o coração do povo, e quanto mais distante era o povoado do reino onde Tico atuava, menos poderiam conhecê-lo na intimidade, sua verdadeira face, e assim, mais e mais amigos fazia, que determinou o fim de suas viagens solitárias, juntou-se a alguns adeptos com o que formou a companhia de teatro saltimbanco denominada “Tiquinho e seus amiguinhos” que animava e divertia adultos e crianças onde houvesse festas com “boca livre”. Ficara amigo íntimo do povo que passou a tratá-lo carinhosamente de “Tiquinho”, mesmo nome que adotara na companhia de teatro.
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O reizinho gordinho |
E assim, o grupo dos saltimbancos “Tiquinho e seus amiguinhos”, famoso e tido como o melhor grupo de atores de picadeiro da redondeza, amealhou muito prestígio, e por viverem num reino triste, governado por um rei muito, muito vaidoso, que vivia criando armadilhas para caçar detratores, que perseguia a todos que esboçassem idéias discordantes do governo, seu real objetivo foi alcançado: tornou-se rei,e seus amigos de micagens sua corte. Mas na verdade tornou-se mesmo é reizinho, porque apesar do belo trono, não lhe fazia jús por suas atitudes de pequenez e má índole; covarde age nas sombras para atingir desafetos.
Tico no poder podia desfrutar de vestes e de víveres de primeira, tem tanta fartura de alimentos que ficara gordo. Reinava num reino “sui generis” onde o rei é posto pelo voto com tempo de mandato determinado, por isso, a aparente bondade do espirituoso amigo querido precisava continuar, mas só nos discursos, da boca prá fora, e de preferência quando houvesse muita gente que são nos momentos em que reunia vários representantes do seu reino, uma espécie de assembléia do povo, onde potencialmente muito voto poderia ser conquistado. Como rei, Tico vivia se achando o máximo, não queria mais ser tratado por "Tiquinho", continuava feio, agora gordo, ainda fala demais, continuava gostando de fazer chacotas de tudo e de todos e de falar mal das pessoas pelas costas; perseguia seus detratores com as armas da manipulação, da coação; criava armadilhas, dava as costas a antigos amigos e apoiadores, pois achava que não precisava de ninguém.
E assim foi correndo a vida em terras num reino muito, muito distante, que não crescia para o mundo, nada fazia de útil à humanidade, ainda sem união, sem harmonia, num governo com discurso populista de zelador pelo tesouro real, mas que era perdulário, não gastava no que devia e gastava mal em obras faraônicas de cunho prático duvidoso a não ser para satisfazer a vaidade desenfreada do reizinho, repetindo a mesma funesta atitude do monarca anterior, reeditando as práticas que num passado recente justificaram a queda do antigo mau rei e mal governante.
“Todo povo que não presta atenção na sua história está condenado a repeti-la...”
Ir. Edson Monteiro
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