quinta-feira, 30 de junho de 2011

SINTONIA FINA


Quando tratamos de iniciar algum candidato em nossas Lojas sempre recomendamos que preste atenção em tudo que ocorrerá à sua volta. Assim aconselhamos para que o candidato desfrute da beleza que os ritos impõe e da profundidade de cada momento, e assim agimos para que se despertem todos os sentidos e que o iniciado ao longo de sua jornada maçônica tenha em mente a significação daqueles atos desenrolados no curso de sua iniciação. 
Tenho comigo que aquele momento é o mais importante. É o alerta para que o iniciado desenvolva mais do que simplesmente a percepção física dos acontecimentos. É o exercício preliminar do desenvolvimento da percepção.
Com o passar do tempo o iniciado desenvolve o intelecto com a impregnação dos conceitos e fundamentos filosóficos da maçonaria. Alguns assimilam toda essa carga de preceitos e de certa forma abdicam de alguns conceitos profanos em prol de uma ordem verdadeiramente séria. Outros tantos são inseridos na ordem e desenvolvem aptidões morais e intelectuais.
No entanto tenho percebido que poucos, pouquíssimos mesmo, desenvolvem aquele predicado exigido na iniciação; a percepção do que ocorre a sua volta. Não é incomum verificarmos que aquele maçom extremamente dedicado à sua Loja e aos preceitos que são próprios da ordem maçônica, convertam-se em dedicados cultores do liturgismo que impregna as reuniões, e que mais do que isso, se transformem em verdadeiros baluartes da moralidade maçônica. 
Digo sempre que estes são os piores maçons, porque mesmo imbuídos de boa fé, normalmente cegos pelo rigor ritualístico e equivocados quanto a extensão de nossos princípios, tornam-se os mais intolerantes, os menos fraternos e os mais ignorantes quanto aos valores da vida comunitária. A pretexto de preservação de certos ritos tornam se intransigentes e prestam culto à personalidade e à extravagância de arrogaram-se possuidores do conhecimento. Pouquíssimos tem o discernimento para conviver com a crítica e entender que o apontamento do certo e do errado nem sempre é imbuído do intento de destruição. Menos ainda vislumbrei nesses homens arrogantes a capacidade de converter o vício da vaidade em predicado da humildade. Esses falsos aplicadores de nossos fundamentos não desenvolveram a percepção de que o mundo é muito maior do que a maçonaria e que ele necessita que sejamos melhores do que somos.
A par disso, normalmente os que se esmeram no rigor ritualístico e se arvoram detentores do conhecimento pertencem a uma categoria de maçons que particularmente reputo da pior qualidade. São os covardes da ordem, que sempre a pretexto de cumprimento de um preceito maçônico não emitem opiniões, não toleram a crítica e não enfrentam situações que possam colocar em riso suas regularidades na ordem. São aqueles que esperam os resultados para alinharem-se a posições vencedoras. São os omissos a que me refiro. 
Imagino como deve repercutir a matéria postada pelo Ir Edson Monteiro a respeito do Retiro do Maçom Idoso. Os execradores de plantão por certo devem achar que o Ir está postado contrariamente ao projeto do Grão Mestre da GLESP, pura e simplesmente para ser contra o Grão Mestre. Ledo engano. Quem o conhece sabe que o Ir Edson pratica a maçonaria em todos os seus fundamentos. Não é um homem vazio, desprovido de fundamentos e não praticante. Poucos fazem no sigilo que a caridade recomenda o que ele se dispõe a fazer. Pois é, então, que a sua crítica deva ser observada e atentamente analisada, mesmo porque ela é técnica e precisa nos pontos fundamentais de uma obra desta grandeza. Mesmo porque, em nenhum momento o dirigente da GLESP se dignou  esclarecer, a não ser, é claro, aos seus companheiros de aventuras, em que consiste esse tal retiro, o que será realizado, a quem será disponível, quais os requisitos para usufruição e etc, além do que, os custos de implantação e de manutenção, principalmente tendo-se em conta que deva ser uma obra que se prolongue no tempo.
Mas o fato é que não há questionamentos, e aquela categoria de maçons a que me referi apenas contempla.
A todos esses haverá de ser conferido o perdão pela fraqueza, porque certamente foram mal iniciados. Não lhes exigiram naquele momento solene que desenvolvessem a percepção. Ficaram, portanto, restritos à contemplação e assim permanecem. Os poucos que caminharam pela trilha da perfeição iniciática por certo desenvolveram seu sentido crítico, sabem onde estão, porque estão, o que esperam da ordem e no que podem contribuir. São os pouco dotados de uma capacidade sensorial a qual reconhecemos por sintonia fina.

                                                                                            Eduardo Capua de Alvarenga V.´.M.´.

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